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10 Conselhos para se estudar Teologia

Conselhos para Teólogos

Esta é uma pergunta que, com certa frequência, me fazem. Não exatamente nestas mesmas palavras, mas o sentido é bastante semelhante. O objetivo da indagação é justamente buscar um “norte”, um caminho, uma espécie de apontamento sobre por onde começar e o que fazer para não se perder em meio aos estudos.
Lembre-se de que antes de começar, é preciso saber sobre o porquê assim fazer. Diante disso, de maneira sucinta, deixo abaixo algumas preposições para você meditar.

1. Tenha em mente que todos precisam estudar teologia

Infelizmente, tem se pregado que teologia é somente um estudo para pastores, mestres e doutores. Dizem que estudar teologia é obrigação somente para os que aspiram o presbitério ou às poucas exceções de pessoas que se deleitam em ler livros velhos e empoeirados. Nada mais, porém, está tão longe da verdade.
Estudar teologia é um dever de todos. Começando pelos pastores e passando pelos diáconos, o estudo sério das Escrituras deve chegar até à casa do mais simples homem. Todos, homens e mulheres, devem estudar teologia.
Por “teologia”, quero expressar o conhecer a Deus através e somente da Bíblia. Não estou ignorando os bons livros, mas, sim, pontuando que todo conhecimento tem que ser embasado pela Palavra de Deus, caso contrário será, “vaidade de vaidades”.

2. Deus pode e dever ser conhecido até o limite revelado em Sua Palavra

É preciso entender que Deus pode ser conhecido, pois se afirmarmos que Deus não pode ser conhecido, logo, é inútil estarmos lendo a Bíblia, orando, indo à igreja e tendo comunhão com os irmãos.
Entretanto, o limite para se conhecer a Deus é Sua Palavra. Será exercício intelectualmente inútil tentarmos descobrir como será, literalmente, o céu e o inferno, por exemplo; igualmente, não somente inútil, será pecaminoso (pois se está indo além do que Deus revelou) tentar restringir Deus à nossa limitada compreensão – se cai neste pecado quando se diz que “já se conhece tudo sobre Deus”.
Não confie em livros que revelam fatos não revelados pela Escritura.

3. É impossível ser um cristão sem estudar teologia

Uma vez que a teologia busca conhecer ao Senhor e os filhos de Deus são chamados de cristãos, isto é, seguidores de Cristo, então é necessário que o crente faça, diariamente, uso da teologia.
Se faz e estuda teologia a todo instante: diante de um chefe que pede para mentir, analisamos e pedido e o comparamos com o que diz a Escritura; nossos colegas de trabalho e faculdades nos perguntam sobre porque o “deus” do cristianismo é o único e nos pomos a respondê-los de acordo com a Bíblia; nossos parentes nos perguntam se o falecido “amigo” ou “amiga” irá para o céu e lhes damos uma resposta segundo a Palavra; no trânsito e sua chateação peculiar, lembramos de que a Bíblia nos diz para não ficarmos irados e, se ficarmos, que não pequemos (Salmo 4).
Em absolutamente todas as situações da vida o cristão precisa saber o que diz a Bíblia. Sendo isso verdade, como poderíamos desprezar o estudo?

4. O estudo é o meio que visa atingir uma finalidade

O propósito de se estudar teologia não é o conhecimento – disto os fariseus estavam cheios.
Simplesmente “saber” explicar a soberania de Deus, apenas para ilustrar, não se traduz em dizer que a pessoa seja alguém piedosa. Até mesmo um pastor pode pregar belas e impactantes mensagens sobre a santidade, discorrendo grandes interpretações e aplicações benditas, no entanto, sendo uma vaso inútil e tendo sua vida despedaçada.
Estuda-se teologia para crescer na vida com o Senhor. Compra-se livros não para debater e verborragizar na internet e em círculos de amigos, mas, sim, para se devotar mui excelentemente bem ao Senhor.
Assim como vamos à faculdade para aprender a como exercer nossa futura profissão, também vamos ao estudo para saber como viver diante Deus.
O jovem rico perguntou ao Senhor: “Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?” (Lc 18.18), todavia, após ouvir sobre o que deveria fazer, “ficou muito triste, porque era muito rico” (Lc 18.23). De modo diferente, então, deve ser o agir do homem ao estudar a Palavra.
Ao levarmos o estudo a sério, precisamos estar cientes de que estamos estudando para matar a carne pecaminosa e crescer em graça diante de Deus. A evidência de algum estudo estar sendo corretamente exercido e gerando bons frutos, talvez possa ser melhor verificado pela vida com que o indivíduo leva, do que por seus escritos e livros – “pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.20).

5. O pecado cegou o entendimento e obscureceu a verdade

Tão logo você comece a estudar, perceberá um dos frutos do pecado de Adão: a grandiosa dificuldade para se compreender determinados assuntos.
Converse com algum cristão experimentado no estudo e prática cristão e ele lhe dirá, com absoluta certeza, o qual difícil lhe foi entender o modo correto de se adorar ao Senhor. Não preciso citar outrem, podendo relatar ao querido leitor meu próprio caso, onde após “criar” uma
“igreja” totalmente fora dos padrões de Deus (mas que agradava aos meus desejos), fui agraciado pela Verdade – no entanto, com dores e sofrimentos, em particular no que tange ao reconhecer que, embora estivesse corretamente motivado, como o rei Saul ao trazer os despojos da guerra para sacrificar ao Senhor (o que lhe tinha sido proibido – leia 1 Samuel 15), não bastava somente um coração disposto: era preciso agir conforme a vontade determinada por Deus (1Cr 15.13).
Deste modo, esteja certo de que diversas vezes você encontrará aparentes incongruências na Bíblia. Faço questão de frisar: aparentes. Você verá que determinadas doutrinas parecem conflitar umas coisas as outras: se Deus é totalmente soberano, como pode dizer que os homens são responsáveis por suas ações? Se Deus é quem elege e salva, como os homens devem se arrepender?
Fixe-se, desta forma, e tome a resolução de John Newton (1725-1807): “Irei atribuir todas as aparentes incoerências da Bíblia à minha própria ignorância.”

6. Esteja pronto para ser ignorado, contrariado e outras tantas coisas

Tendo em vista que são poucos os estudiosos sérios da Palavra de Deus, frequentemente você exporá a doutrina correta e será liberalmente ignorado e “taxado” de fundamentalista, pois “só crê no que a Bíblia diz”.
Jamais se esqueça, entretanto, que você deve ter justo motivo para ser tratado desta maneira. Muitos se utilizam do versículo, “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5.10) para justificarem que a perseguição é justa por si mesma. Note, porém, que nos é dito, igualmente: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa” (Mt 5.11 – grifo do autor). Os cristãos sofrem perseguição quando são acusados falsamente – nada tem a ver, portanto, com alguém ser acusado justamente em virtude de heresia e desvio moral.
Para ser enquadrado em tal bem aventurança, o cristão deve saber provar biblicamente que sua posição encontra lastro escriturístico e também histórico. De nada adiantará defender o pastorado feminino, ser “taxado” de liberal e dizer que está sendo perseguido pela causa de Cristo. Esteja certo de que se isso acontecer, seu estudo não está sendo aproveitável e de modo algum você está sofrendo “por causa da justiça”.

7. Não construa falsas expectativas

Qual é sua motivação para estudar teologia? Ser um grande doutor em alguma universidade cristã renomada? Ser preletor de simpósios internacionais evangélicos? Ser eminente pastor e prolífico escritor de livros? Se algum destes postos lhe estão na mente, gentileza os remover.
Diz a Escritura que “Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13), o que significa dizer que não é você quem define onde, como e quando alcançará o que deseja. Não que seja completamente errado fazer planos (na verdade, dentro do possível, eles são necessários), mas lembre-se do que diz a Escritura: “Do homem são as preparações do coração, mas do SENHOR a resposta da língua” (Pv 16.1).
Estude com o foco em viver para a glória de Deus, como deixa evidente o apóstolo. Como disse Lutero, se Seu chamado for para fazer sapatos, então estude teologia para ser um sapateiro para a glória de Deus, afinal, “quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1Co 10.31).
Jamais estude querendo ser reconhecido. Estude para ser um bom cristão e, se alcançar este objetivo pela graça de Deus, certamente serás bem aventurado.

8. Não construa a noção de que somente você possui a sã doutrina

Um erro comum no meio cristão e em especial nos centros de estudos, é presenciarmos espécies de “narcisismos teológicos”.
Como figura bem conhecida, o fictício personagem “Narciso” gostava de se olhar e dizer que não havia qualquer pessoa no mundo que se igualasse a ele. De forma muito semelhante, isto ocorre quando se estuda teologia. Muitos se perdem com a vã pretensão de que são os mais ilustres dentre todos os teólogos (ainda que tal pessoa não tenha lido mais do que alguns poucos livros). Muitos são aqueles que, em vez de clamarem como o nobre publicado, “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lc 18.13), parecem se ver como os levitas do Antigo Testamento que levavam a Arca da Aliança.
Toda vez que o orgulho tocar em seu coração (e acredite: isso acontecerá uma miríade de vezes!), recorde das prudentes palavras: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Pv 16.18). Se você der continuidade ao espírito maligno do pecado, verá que estava certa a Palavra: “Como o soltar das águas é o início da contenda, assim, antes que sejas envolvido afasta-te da questão” (Pv 17.14).

Por mais que sua teologia seja refinada, amparada nas línguas originais e tenha lastro histórico probatório, lembre-se de que do pó viemos e ao pó voltaremos (Gn 3.19). Se você afirmar que é o único detentor da verdade, esteja certo de que o laço do passarinheiro (Sl 91.3) já lhe alcançou e você precisa se arrepender. Pontuo ainda outra vez para que você não erre por falta de amorosa admoestação: você é um pecador e, portanto, alguém falho. Tenha humildade para reconhecer que mesmo não encontrando uma falha sequer em seu sistema de doutrina, você tem que estar errado em alguma coisa e certamente está agindo errado em muitas outras, pois o único perfeito foi Cristo Jesus – queira se parecer com Ele, mas não por seus próprios méritos.

9. Tenha paciência com os mais fracos na fé

É preciso estabelecer que você, mui provavelmente, não nasceu em um berço com teologias sistemáticas ao seu redor e nem ouvia, ao fim de cada dia, seu pai ler a história de O Peregrino ou lhe contava as histórias sobre a Assembleia de Westminster. Se por acaso o leitor tiver tido tal bênção, aleluias – mas a maciça maioria não cresceu nestas condições. Por isso, não seja leviano ou áspero com aqueles que lhe perguntarem e indagarem um sem número de vezes os “porquês” e “porquês” de isso ser “assim” e “assim”. Evidente, é claro, que você deve os estimular a também estudar, mas mantenha o foco na graça e rogue ao Senhor para que lhe dê paciência e amor.
Paciência não é sinônimo de enfado com falso sorriso. Muitas vezes as pessoas lhe perguntarão o que é certo fazer em determinada situação e posteriormente você as verá agindo contrário ao que lhes foi dito. Não se desespere – faz parte da vida pecaminosa e elas devem obedecer a Palavra, não a você. Use seu estudo e conhecimento e vá até o irmão e o admoeste, “para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.13).
Sempre tenha à memória: “Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19). Se você deseja que o próximo compreenda a fé e cresça em conhecimento, leve cativo o fato de Cristo ter lhe amado primeiro. Você nada fez para merecer coisa alguma.

10. Você passará o restante de sua vida estudando

Longe desta preposição querer soterrar qualquer falta de ânimo, o intento é que você o recupere. É preciso não fugir do ideal bíblico: “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2.52).
Se Cristo, na pessoa de homem (Fp 2.7), cresceu continuamente em sabedoria, não creia ser diferente com você. Esqueça o paradigma de que “aprendemos até X ou Y idade”. O cristão vive na dependência do Senhor e para isso clama por mais sabedoria a cada dia: “Oh! quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia” (Sl 119.97).
Tamanha é nossa necessidade, que dispõe a Escritura: “Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada” (Tg 1.5). A Bíblia e livros nunca podem ser demais para você. Um verdadeiro estudioso jamais dirá que “não precisa mais ler a Bíblia”. Ainda que alguém possa saber toda a Palavra mentalmente, até mesmo
versículo por versículo, o conhecimento destes versículos são maiores que sua literalidade.

A palavra de Deus é como a profundeza do mar: aparentemente escura, mas basta um olhar atento sob à luz do Espírito Santo e os maravilhosos ensinamentos serão enxergados. Quanto mais fundo você for, mais agraciado será. 
Autor: Filipe Luis C. Machado 

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